sábado, 16 de maio de 2009

Memorial de Leitura




Este texto contempla minhas experiências de leitura da infância à fase adulta.Meu primeiro contato com livros se deu na casa de minha avó, na roça, onde minha tia era professora leiga e ensinava classe multisseriada. Quando ela ia buscar os livros na sede eu ficava ansiosa e quando ela chegava era aquela festa, eu abria e folheava um a um, adorava sentir o cheiro de coisa nova. As palavras e os textos eram mistérios a ser desvendados, mas com minhas hipóteses e com a observação das figuras coloridas, fazia minhas leituras...Não passei pela Educação Infantil, aos sete anos não estudava ainda e só comecei a frequentar uma escola aos oito anos de idade, na 1ª série, em São Paulo. No primeiro dia de aula já recebi todos os livros, lembro-me bem de um que parecia uma revista, páginas suaves e com uma luminosidade, não me lembro de qual disciplina era, mas senti o mesmo cheirinho que sentira dos livros da escola da minha tia. Agora eles eram meus, e minhas hipóteses de leitura não eram mais suficientes, já conhecia algumas letras do allfabeto e assinava meu primeiro nome, mas agora tinha que começar a decifrar aqueles códigos de verdade. A professora Leila foi muito marcante nessa fase, pois sei que seu acolhimento, carinho, incentivo e compreensão para comigo foram essenciais para minha adaptação àquela nova realidade.Não tenho lembrança de como fui efetivamente alfabetizada, nem de algum livro, exceto os didáticos, que tenha lido nesse período.Na 3ª e 4ª séries, já de volta à Bahia, senti certa dificuldade em relação ao ensino, pois havia conteúdos ainda desconhecidos para mim, mas consegui acompanhar sem repetir o ano. Uma professora, em especial, marcou esses dois anos,não pelo incentivo ou motivação, mas pelas humilhações e constrangimentos.Mas deixa pra lá!!!No período da 5ª à 8ª série, no ginásio, a prática da leitura se fez mais presente, não por prazer, mas por obrigação e com fins avaliativos. Eu era bolsista em um colégio particular e meus pais se desdobravam para adquirir o material solicitado, mas nem sempre sobrava dinheiro para comprar os romances de leitura obrigatória. Só tinha um jeito que era esperar o colega que comprou, fazer sua leitura para depois me emprestar e isso quase sempre acontecia dois, três dias antes da prova, era na verdade uma olhada superficial no romance. Nessa fase da minha vida as leituras não obrigatórias eram feitas nos encontros de jovens da igreja (Pastoral da Juventude do Meio Popular-PJMP) e umas bem especiais: as de seu Secundino.Seu Secundino era um simpático senhor de sessenta e poucos anos que residia na comunidade rural onde minha avó morava. Na roça, toda a pessoa mais velha costumamos chamá-la de tio ou tia e tomamos sua bênção sempre que a encontramos. Ele morava sozinho em uma casa, nunca se casou. Quando seu sobrinho foi morar na cidade, ele foi morar junto com a irmã e lá ele descobriu nossa casa e passou a frequentá-la todas as manhãs entre 9 e 10 horas, ele chegava com um livrinho de cordel para que eu fizesse a leitura e ele ficar “apreciando” como dizia. Ele não sabia ler, mas tinha uma vasta coleção de literatura de cordel e algumas ele já sabia de cor, estavam, gravados na memória. Era muito divertido ler e ouvir aquelas histórias, minha família toda sentava para ouvir. Esses momentos de leitura me marcam até hoje.Havia uma disciplina que eu não sei qual foi o objetivo dela na época, mas não contribuiu em nada na minha formação, Técnicas de Alimentos, a aula consistia apenas em copiar receitas culinárias e coletar ingredientes para fazer uma delas e depois comê-la.Tem um livro em especial que marcou todas as pessoas que estudaram na CNEC naquela época, Meu Pé de Laranja Lima, a história do menino Zezé e seu mundo de fantasia criado para refugiar-se do seu áspero mundo real.No ensino médio li alguns livros, poucos, mas o Pequeno Príncipe, não há ex-aluno cenecista que não o tenha lido e se envolvido pelas suas viagens e que não tenha em mente alguma de suas mensagens belíssimas - Tu és responsável por aquilo que cativas (Exuperry) - nunca esqueci. Além da diretora, que também nos ensinava a disciplina de psicologia, outra professora me marcou muito nessa fase final de ensino médio, no curso do magistério: a professora Áurea. Precisei trabalhar para ajudar meus pais, afinal éramos sete filhos estudando, por isso tive que estudar no turno noturno. Chegava muito cansada, pois o colégio fica distante da minha casa e eu adorava as aulas dela e ela já conhecia meu trabalho como professora em uma creche e sempre me elogiava e incentivava além de uma colega muito divertida Maria Cândida, a Lia, que fazia as aulas passarem sem que percebesse.Na Universidade, a leitura tornou-se uma prática mais presente no dia-a-dia: fragmentos de textos, livros, romances, artigos, era uma loucura. A metodologia adotada no espaço acadêmico assusta um pouco quem sai de um ensino médio, com o professor ali orientando e explicando todo o conteúdo na sala de aula. Parece que todas as leituras que deveríamos fazer ao longo da vida escolar fazemos em alguns semestres.Logo no primeiro semestre me deparei com a Professora Stella Rodrigues, considerada por muitos como carrasco. Ela nos colocou para fazer um seminário, e como sugestão eu dei o nome do livro de Paulo Freire Pedagogia do Oprimido, pois já havia escutado falar muito dele em encontros na igreja. A leitura desse livro foi marcante na academia e na minha vida. Além de receber nota máxima desmistificamos a ideia que a priori tivemos da professora e me auxiliou na compreensão da leitura de outros textos ao longo do curso.Atualmente continuo fazendo muitas leituras, cada uma com objetivos diferentes por conta da minha profissão, mas aquela leitura por prazer, há tempos não a faço.



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